O Homem que corria reto

Um homem saiu de Sacavém de manhã com os seus ténis Adidas, o seu calção da Decathlon, a t-shirt branca da Puma e com as chaves.

O homem tinha intenções de ir sempre em frente até ao Cabo da Roca. Ele não queria saber, ele queria ir em linha reta até lá. Mesmo que tivesse obstáculos ele ia sempre em frente a correr.

Ele tinha visto os filmes Forrest Gump e o Mr. Bean e queria imitar o Mr. Bean que andava sempre em frente em Paris.

Ele saiu de casa de Sacavém e começou a correr. O primeiro obstáculo foi um prédio. Ele trepou o prédio como se não estivesse lá. Foi tão rápido que agora já estava a descer.

Tinha as chaves a incomodá-lo. Faziam barulho sempre que ele corria. Resolveu meter debaixo das cuecas. O seu coiso estava agora um bocadinho desconfortável com as chaves. Mas já não fazia barulho. Ele podia continuar o seu trajeto.

Mais à frente, apanhou uma reta com uma estrada que ia sempre em frente. De repente aparece um cão sem trela e começou a ladrar. O homem com medo de ser mordido, correu o mais que pode. Mas o cão continuava no seu alcance. O homem foi correndo sem olhar para trás. Até que o cão cansado da corrida desistiu. Ele estava agora mais aliviado, mas não parava de correr.

Passados alguns dois ou três Kms apareceu uma ribeira e ele teve de se molhar. Já corria e nadava ao mesmo tempo. Ele queria continuar sempre em frente.

Após isso, apareceu vários obstáculos como um sinal de trânsito e ele resolveu danificar o sinal de trânsito porque ele tinha o objetivo de ir sempre em frente. Lá conseguiu arrancar o sinal de trânsito e prosseguiu a sua marcha, ou melhor, a sua corrida.

Depois apareceu uma estrada plana e ele tinha a companhia de ciclistas que faziam o trajeto daquela estrada. Ele agora tinha a companhia de ciclistas e não se sentia sozinho. Depois os ciclistas viraram à direita e ele continuo sempre em frente para o descampado.

Ele regia-se por esse objetivo e não se desviava.

Entretanto, apanhou uma casa. Entrou por uma porta, abrindo. Entrou na casa. Não estava ninguém e fechou a porta das traseiras. Parecia desenho animado. Mas continuo como se nada fosse e não tivesse ocupado casa alheia.

Depois fez uns kms em linha reta, por descampados e silvas. Mas não se aleijava.

Ele a certa altura no seu trajeto passou por um café que ficava na linha reta e pediu uma água. Estava com sede. Já tinha percorrido uns bons kms. A água soube-lhe pela vida. E continua sempre em frente.

Como dizia os Gato Fedorento, segue, segue, segue sempre em frente. E lá ia ele. E quando um obstáculo lhe aparecia ele conseguia desvencilhar-se e prosseguir sempre em frente.

Quando chegou ao Cabo da Roca, ainda era cedo. Tinha o sol à sua espera e uma série de turistas que contemplavam o Farol do Cabo da Roca. Tinha chegado ao ponto mais ocidental da Europa continental e tinha cumprido o seu objetivo de ir sempre em frente.

Portanto, se vir um obstáculo à sua frente, faça como este homem e não vire à direita, nem à esquerda e encare de frente e não desista.