Namoro firme

O Mário estava numa obra. Estava a pintar um andar do prédio antigo com um primário. Os colegas até brincavam com ele a dizer: “Mário, estás a pintar com pri-mário?”.

O Mário era homem solteiro, à procura de alguém. Sempre que passava uma mulher por baixo do andaime que ele considerava jeitosa segundo os seus padrões, o Mário não se coibia de fazer um piropo.

Mário estava desejoso de encontrar a sua cara-metade. Até já lhe ocorreu pela cabeça publicar um anúncio nos classificados do Jornal do Correio da Manhã a dizer: “Empresário de Obras Públicas precisa de Companhia para relação duradora com Máximo Sigilo.” com o número de telefone.

Um dia passa uma loira com uma minissaia. Ele nem teve a oportunidade de ver a cara, mas resolveu gritar bem alto: “Sou estudante de línguas, posso-te beijar?”.

A loira que era a Clara de seu nome, olhou para trás. O Mário sorriu. Finalmente, uma mulher tinha reagido ao piropo que gritara.

De repente, a mulher sem achar muita piada, resolveu meter o pé do andaime e chamar nomes ao Mário. O Mário ainda olhou para o andaime e pensou: ela não tem coragem para subir.

No entanto, a Clara era mulher de convicções fortes e de muita ação e pé ante pé começou a subir os andaimes. O Mário já não sabia o que havia de fazer. Não tinha por onde fugir. Ele olhou para baixo e pensou. Ela de mini saia não vai conseguir chegar aqui ao quarto andar.

Mas Clara com esforço conseguiu subir andaime por andaime e chegou ao andar onde estava Mário e de cara a cara para o Mário disse: “O que é que você disse?”. Mário prontamente disse que não tinha dito nada, mentindo na cara de Clara. A Clara virou-se para o Mário e disse: “Eu ouvi bem. Você disse sou estudante de línguas, posso-te beijar. Eu estou aqui diga-me por favor novamente à minha frente o que disse anteriormente”. Mário já não sabia o que devia dizer. No entanto, disse: “Eu sou estudante de línguas. Neste momento, estou a estudar português. Era isto que tinha dito.” Clara insistiu: “O Mário mente. O que disse foi sou estudante de línguas, posso-te beijar. Mário voltou a responder: “Eu disse que era estudante de línguas. Neste momento, estou a estudar português à noite” A Clara não muito convencida disse: “Muito bem eu vou-me embora, mas não aceito que me dê um piropo. Sabe que é punível por lei”. Mário voltou a repetir que não estava a mentir e mostrou o livro Primeiro As Senhoras – Relato do último bom malandro de Mário Zambujal e disse “Neste momento, até estou a ler este livro do Mário Zambujal. Até posso afirmar segundo Mário Zambujal, os piropos são homenagens que se prestam, com ou sem objetivo. Objetivo, tanto pode ser namoro firme como encosto avulso e descomprometido. E eu neste momento procuro namoro firme. Não ando para aí a dizer piropos por nada.”. Clara voltou a dizer: “Mas olhe que eu ouvi bem se queria beijar-me”. Mário então perguntou: “E a Sra. quer beijar?”. A Clara era também solteira, mas não gostava de brincadeiras. Era muito séria. No entanto, disse: “Eu quero beijar, mas não é consigo”. Mário respondeu: “Muito bem. Então porque é que cá veio? Ainda por cima no quarto andar.” Clara muito séria disse: “Não está a sugerir que eu queria ir para o quarto? Primeiro, foi o beijo agora o quarto. Eu estou a ver que me quer seduzir.” Mário de volta respondeu: “Não, não! Como lhe disse anteriormente, procuro namoro firme. A Clara está disponível? Já me disse que não.” Clara: “Bom parece que tenho de ir embora. Passe bem. Vou descer os andaimes” Mário vendo que não conseguia convencer a Clara disse: “Passe bem e tenha cuidado a descer”. Clara agradeceu e Mário tinha-se apaixonado por aquela mulher que teve a coragem de subir os andaimes e confrontado com o piropo que Mário tinha dito. Mas Clara não tinha correspondido e, portanto, seguiram cada um os seus caminhos.

Mário ainda hoje procura namoro firme.