Quem é Afonso Henriques?

O Afonso Henriques é um homem que é um troca-tintas. Não porque é uma pessoa de pouco crédito ou pintor que pinta mal, mas sim porque ele gosta de livros e quando mistura as cores primárias sai-lhe Livros.

É uma forma de expressão. Na realidade ele mistura cores nos seus pensamentos e lê estes livros. Por exemplo, quando mistura azul com amarelo, sai-lhe Luz Verde de Matthew McConaughey.

Quando mistura vermelho com amarelo, sai-lhe uma Laranja Mecânica de Anthony Burgess.

Quando mistura vermelho com azul, sai-lhe um Violeta de Isabel Alhandra.

Com esta mistura, sai-lhe memórias, romances e fábulas. Sai-lhe cultura que enriquece a sua personalidade. Sai-lhe tintas que trocadas dá-lhe a fama de bom leitor.

Mas Afonso Henriques não é só troca-tintas. Ele, também, gosta de ver as coisas bem esclarecidas.

A expressão pão, pão, queijo, queijo não lhe convence. Como sabemos trata-se de uma expressão usada para dizer que se gosta das coisas bem definidas, bem explicadas ou literais.

Mas ele questiona porque se diz pão, pão, queijo, queijo e não se diz pão, pão, marmelada, marmelada ou pão, pão, TuliCreme, TuliCreme? Sempre era mais doce segundo ele.

Ou, então, porque é que não se diz tosta, tosta, Philadelphia, Philadelphia? Esta talvez porque a Philadelphia só foi introduzida em 1872 em Nova Iorque e Portugal é mais antigo do que 1872.

O que é certo é que ele gosta de coisas bem explicadas e ainda não lhe convenceram que tem de ser exclusivamente pão, pão, queijo, queijo.

Afonso Henriques, também, é um jogador de estratégia e questiona porque é que quando jogamos xadrez e fazemos xeque ao Rei? Porque é que não dizemos letra ao Rei.

E, com a introdução de novas formas de pagamento, ele acha que podíamos dizer cartão de débito ao Rei. Ou então dizer cartão de crédito se não quisermos pagar de imediato ao Rei.

Pensa, também, dizer MBWAY ao Rei. E se for para fazer pagamentos elevados, ele acha que podemos dizer Swift – Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication ou Target2 – Trans-European Automated Real-time Gross settlement Express Transfer ao Rei. O que interessa é fazer pagamento ao Rei sem ser por xeque que está em desuso.

O Afonso Henriques é, também, informático e quando lhe apontam um defeito, ele diz: “Reporta no software os defeitos!”.

Noutro dia, o chefe disse que ele era teimoso e ele respondeu reporta no software o defeito.

Noutro dia o colega de trabalho disse que ele era maçador e ele disse para reportar no software o defeito.

No trânsito, um condutor disse que era palhaço e ele até respondeu para reportar no software o defeito.

Afonso Henriques tem muita experiência profissional. São já 20 anos de trabalho como informático. É caso para dizer são muitos anos a virar frangos.

Se ele fosse uma pessoa vegetariana com muitos anos de experiência profissional, já deviam dizer: “São muitos anos a virar tofu.”

Se fosse vegano, deviam dizer: “São muitos anos a virar seitan”.

Se fosse uma pessoa crudivegana, deviam dizer: “São muitos anos a virar vegetais crus”.

O que interessa é experiência profissional mesmo que a refeição no posto de trabalho varie de pessoa para pessoa.

Afonso Henriques, também, sofre de solidão. E, por falar, em refeição ele pediu uma mesa numa tasca. Chegou ao empregado e disse:

“Uma mesa para combater a solidão faz favor.”

“Tem aqui esta.”

“Quer entradas? Uma amiga ou um amigo?”

“Pode ser.”

“Então, vou buscar.”

“E o que é que deseja beber?”

“Pode ser um beijo por favor.”

“Entretanto, deixo aqui a ementa.”

“Então, já escolheu?”

“Sim, queria uma namorada.”

“Muito bem. Quer bem passada, malpassada?”

“Quero como os franceses dizem au point.”

“Com certeza é para já.”

“Então está a gostar?”

“Estou a gostar muito.”

“Ótimo.”

“Aqui gostamos de servir bem o cliente.”

“Vi que já acabou.”

“Quer sobremesa?”

“Sim pode ser. O que é que tem?”

“Sugiro o sexo da casa.”

“Muito bem. Pode ser.”

“Então o sexo da casa estava bom.”

“Estava divinal.”

“Muito bem e agora um café com um filho?”

“Sim pode ser.”

“Muito bem trago já.”

“Já agora podia trazer a conta.”

“Com certeza.”

“Muito bem a conta está aqui.”

“Vai quer incluir a gratificação?”

“Pode ser. Você merece. Arranjou-me amigos, beijos, namorada, sexo e até tive um filho.”

“Ótimo. Ainda bem que gostou. Estamos cá para o servir.”

“Boa tarde.”

“Obrigado.”

“Boa tarde!”

Mais um cliente satisfeito, pensou o empregado.

Afonso Henriques passa por dificuldades extremas. É como aquela expressão típica portuguesa “Passar as passas do Algarve”.

A origem da expressão remonta ao século XV, quando o Algarve era uma região produtora de passas e exportava uma grande quantidade delas para o resto do país.

Na época, o transporte das passas era feito por burros e mulas através de caminhos difíceis e montanhosos, o que tornava uma viagem extremamente penosa.

Além disso, as passas eram muito valiosas na época e frequentemente alvo de roubos por parte de bandos que atacavam os transportadores durante o trajeto.

Os assaltantes ficaram conhecidos como “salteadores das passas”, e o transporte das passas pelo Algarve passou a ser visto como uma tarefa arriscada e difícil.

Assim, a expressão “Passar as passas do Algarve” surgiu para designar uma situação de grande dificuldade ou sofrimento.

Mas porque é que passar as passas do Algarve não deveria ser passar as passas dos maiores países produtores de passas, tais como, a Turquia, Estados Unidos, Irã, Grécia, Chile, África do Sul, Uzbequistão, Afeganistão e Austrália. Por exemplo, porque é que agora não se diz: “Passar as passas da Turquia”.

E se não for passas e passar a ser Alfarroba. Fazia mais sentido nos tempos atuais. Passar as alfarrobas do Algarve. Por isso, deveria ser agora “Passar as alfarrobas do Algarve”. O que é certo é que Afonso Henriques estava a Passar as passas do Algarve ou, nesta versão, a Passar as alfarrobas do Algarve.

É verdade, Afonso Henriques estava perdido pelas casas, ruas e pessoas de Guimarães.

Andava à procura do amor no meio dos copos de cerveja e gins dentro de bares.

Olhava as pessoas ao seu redor e só via pessoas parecidas com os seus amigos.

Percorria a cidade de carro, ouvindo música aos altos berros para acabar com a solidão.

Até que um dia com raios de sol, foi achado no meio de um beco.

Era loira e não era cerveja.

Tinha azul e não era mar.

Tinha sorriso e não era cárie.

Tinha lábio carnudo e, no entanto, era vegana.

Era mulher, uma sereia.

Resolveu viver a vida inteira com ela numa cabana térrea.

Fim da estória:

Viveram juntos para sempre!